Cultura de Comunicação e Cultura Organizacional: um alinhamento indispensável para as organizações

No ambiente organizacional, é bastante difundida e amplamente encorajada a definição e desdobramentos da cultura organizacional em ações diárias, que reverberam a cultura na prática. Comumente leva-se em consideração que a cultura organizacional é a chave para o desenvolvimento do foco em resultados, em pessoas, e em outros quesitos, de acordo com os objetivos estratégicos e de posicionamento no mercado. 

Mas assim como uma cultura organizacional forte promove esse ambiente positivo, quando há uma cultura de comunicação, também se promove espaço para que isso aconteça. No entanto, a cultura de comunicação é ainda pouco ou nada discutida. 

Para Marlene Marchiori, “se os objetivos de uma organização são o seu princípio unificador, a comunicação é o seu processo unificador.” Nos diversos ambientes empresariais, os indivíduos estão constantemente influenciando-se, transformando a comunicação em um processo dinâmico e necessário às organizações, sendo que tal processo modifica e desenvolve sua própria cultura organizacional. 

Os próprios elementos da cultura organizacional dependem da comunicação: 

Valores: DNA de uma organização, inclui princípios e crenças, posicionamento ético e moral, refletidos nas atitudes e decisões das pessoas. Há como pensar em atitudes e decisões sem pensar em disseminá-las pela comunicação? 

Símbolos: artefatos e as ocasiões por meio das quais a cultura se dissemina. De um modo geral a “forma de ser e fazer” da organização, o que envolve comunicar para tornar esse “jeito” comum a todos.

História: identidade da empresa no decorrer do tempo e por sua importância, precisa e merece ser divulgada, necessitando da comunicação.

Linguagem: o próprio elemento da linguagem faz parte tanto da cultura, quanto do processo comunicacional. A linguagem oral, escrita e gestual, e hoje a digital, fazem a diferença na transmissão dos elementos da cultura. 

Mas queremos ressaltar não apenas essa comunicação empresarial institucional, que dissemina a cultura organizacional, mas aquela que acontece de pessoa a pessoa, nas reuniões, feedbacks, conversas de corredores: a comunicação humana interpessoal.

Nesse sentido, a cultura de comunicação é algo que impacta o desenvolvimento de cada colaborador, a atuação entre as equipes, e das lideranças com seus liderados. As organizações não são algo estático, e os próprios relacionamentos e o nível de engajamento dos colaboradores são altamente impactados pela forma como se comunicam, e pela importância dada a ela:

– uma comunicação interpessoal aberta deixa claro o que se quer; 

– quando a comunicação é empática e acolhedora, recebe e escuta as necessidades de todos; 

– já os aspectos de assertividade e diretividade na forma de comunicação economizam tempo e colocam ritmo.  

A comunicação humana interpessoal nos ambientes de trabalho é fator de engajamento e retenção, senso de comunidade e pertencimento, estímulo para o desenvolvimento, fator de felicidade e saúde mental no trabalho. Disseminar como queremos que as conversas aconteçam também deve fazer parte da cultura de comunicação de cada organização.

Então, por que possuir uma cultura de comunicação robusta ainda não tem seu devido valor no universo empresarial? Para Duarte e Monteiro, “parece que o potencial desse universo ainda não foi inteiramente explorado. Tem-se a impressão de que as práticas comunicacionais ainda não atingiram um patamar mínimo de qualidade e de que o campo da comunicação ainda não recebeu a atenção que merece.”

Muitas vezes a importância da comunicação é algo novo para as organizações. Por outro lado, é interessante observar o quanto desde o processo seletivo a competência comunicativa é avaliada e privilegiada na escolha de candidatos bons comunicadores, como se apenas ter um bom perfil de comunicador já garantisse um ambiente de comunicação saudável.  Esquece-se que a comunicação é viva e mutante, e se dá no dia a dia, nas relações humanas, nos diferentes papeis e atribuições desempenhados, na cultura organizacional. 

Se a cultura de comunicação não for disseminada, hábitos comunicativos, individuais e coletivos, se formam e se perpetuam, mesmo não sendo desejados pela organização. Falar sobre comunicação precisa ser uma constante na trajetória de cada colaborador. As tecnologias humanas de comunicação disponíveis precisam ser apresentadas a líderes e executivos. Os treinamentos e mentorias necessários precisam ser identificados. 

Conceitos como o da segurança psicológica, da comunicação não-violenta, comunicação assertiva, comunicação consciente e neurocomunicação, e da alta performance em comunicação são temas que devem ser trabalhados nas organizações que buscam por diferenciais estratégicos e adaptabilidade às constantes mudanças dos últimos anos. 

Há um longo caminho a ser percorrido, mas que é possível e de resultados positivos para pessoas e organizações. Neste sentido, líderes e executivos de RH têm papel fundamental em suas organizações, na promoção da cultura de comunicação (empresarial e humana) adaptadas à realidade de suas empresas, e que gerem resultados. 

E na sua empresa, existe uma cultura de comunicação? 

Autoras: 

Roberta Carminati

https://www.linkedin.com/in/robertacarminati

Ana Elisa Moreira Ferreira 

https://www.linkedin.com/in/anaelisa-univoz

Maria Edna S. Lima

https://www.linkedin.com/in/maria-edna-s-lima-6b383330

Facilitadoras do Grupo de Estudos em Comunicação Consciente – ABRH-SP, 2024

Duarte, Jorge; Monteiro, Graça F.. Potencializando a Comunicação nas Organizações Disponível em https://abcpublica.org.br/wp-content/uploads/2021/02/Potencializando-a-Comunicac%C3%A3o-nas-organiza%C3%A7%C3%B5es.pdf. Acesso em 25 nov.2024

Referências:

Marchiori, Marlene. Faces da Cultura e da Comunicação Organizacional. Editora Difusão, 2008