Liderança e Segurança Psicológica: parceria necessária para a redução da solidão do líder

Líderes estão sempre sendo indicados como as peças-chave dentro das organizações para a gestão de pessoas e resultados. Engajar, incentivar, inspirar e capacitar colaboradores, dar ritmo e apoio, intermediar as relações e gerir conflitos, disseminar cultura, são atribuições, algumas desafiadoras, na gestão de pessoas. Na sequência e igualmente importante, estão as atribuições em gestão estratégica do negócio, visão do futuro, análise de cenários, de indicadores e tomada de decisões, implantação de melhorias, inovação e criatividade, gestão de processos, alinhamento de resultados e muitas outras atreladas a sustentação e crescimento da organização.

Nesse cenário é comum que líderes se sintam inseguros em relação as decisões, aos resultados e futuro, tenham dificuldades para partilhar seus pensamentos e sentimentos, ou estejam sobrecarregados pelas responsabilidades, mas reservam-se no silêncio e não partilham com receio que possam ser vistos como não competentes para liderar. Há inclusive uma máxima sobre “a solidão do líder”.

Mas por que essa solidão:

  • Se o líder tem seu time para trabalhar junto?
  • E se junto com seus pares também formam um time?

E time que é time joga junto, partilha estratégia, cria ações, abre seus anseios, revela suas inseguranças ou ignorâncias, pede ajuda e se apoia.

Então, talvez por falta dessas atitudes, a solidão do líder se instale e vira mantra como se fosse verdade absoluta para todos. Será mesmo verdade e que não existam outros caminhos para mudar essa máxima?

Nós acreditamos que a Segurança Psicológica venha como uma Tecnologia Humana de Comunicação para mostrar aos líderes que não podem, não devem e não precisam ser solitários, assim como também fortalece, entre colaboradores, esse espírito de time.

Essa abordagem, embora mais debatida nos últimos 10 anos, surgiu na década de 60 como “a redução do risco interpessoal, que necessariamente acompanha a incerteza de mudança” (Schein e Bennis). As pesquisas se intensificaram a partir dos anos 90, quando a Dra. Amy Edmondson passou a estudar a performance de equipes médicas sob a luz da Segurança Psicológica. Em seus estudos relatou que os times com melhor performance tinham comportamentos específicos e que eram fatores determinantes da alta performance (2020). Por exemplo, frente ao erro, não escondem, falam sobre ele, reduzindo o risco de recorrência do mesmo engano no futuro. Seus conceitos aplicados no Google e disseminado pelo Projeto Aristóteles, ganharam espaço e relevância.

Voltando para nossas reflexões, como a Segurança Psicológica, a Liderança e sua solidão conversam? 

Atualmente estamos conscientes da necessidade da promoção de um ambiente de trabalho onde todos, colaboradores e líderes, tenham voz e vez para se comunicar e expressar, com espaço equalitário de fala, sem medo de julgamento ou punições, o suficiente para correr riscos interpessoais (Edmondson, 2020). Um espaço de trabalho será visto como saudável e seguro se todos sentirem que o ambiente e as relações entre todos oferece oportunidade para pronunciar e compartilhar erros, preocupações, dúvidas, perguntas ou ideias. 

Os benefícios individuais são inegáveis: se podemos nos manifestar por meio de uma comunicação assertiva, aberta, verdadeira, e ainda sermos ouvidos, recebendo empatia e sensibilidade social, trabalharemos podendo ser “nós mesmos”. Assim, falamos o que pensamos sem disfarçar, pedindo apoio quando não sabemos algo, incluindo e sendo incluído pelo time que apoia e ajuda. Todo esse cenário tem impacto na satisfação pessoal e no trabalho, no bem-estar e na saúde mental.

Os benefícios para o líder são os mesmos: a ele também é garantido, além do espaço de fala, o espaço para errar e falar de seus erros, manifestar o que não sabe, discutir abertamente sobre problemas e conflitos, pedir ajuda para seus colaboradores. Se soma a certeza de que o time discutirá problemas e buscará soluções, reduzindo julgamentos e resistências e trabalhando para o resultado. 

Sabe-se, inclusive, que todas essas características são essenciais para que o time alcance alta performance, pois atuam para além dos benefícios positivos em seu desenvolvimento e aprendizado individual, e reforçam o comprometimento com os objetivos e os resultados do time e da organização.  

E a solidão do líder? Em um ambiente como esse, com comportamentos muito mais colaborativos onde existe Segurança Psicológica expressa na segurança para pertencer, para contribuir, para aprender e se desafiar, um líder pode ter a certeza de que não está só. E como chegar a esse estado de comunicação?

– Segurança Psicológica não se implanta, se cultiva. 

– Segurança Psicológica é um fenômeno que acontece no nível do time, mas deve fazer parte da cultura de toda a organização

Portanto, ações precisam ser feitas para essa cultura que promova comunicação e relações saudáveis na empresa, estimulando a compreensão dessa abordagem, seus elementos e pilares, seus benefícios e desafios, desenvolvendo estratégias corporativas, treinamentos de colaboradores e líderes. O apoio das altas lideranças e das áreas de Recursos Humanos intermediando ações, colaborando para disseminar esse conceito para incorporarem essa ideia, é essencial.

Mas cultivar esse ambiente seguro para se atuar é um trabalho do líder e de cada colaborador do seu time. E você líder, o que tem feito para estimular a promoção de um ambiente de trabalho com Segurança Psicológica para você e seu time?  O que tem feito para sentir-se menos solitário na liderança?

Autoras:
Ana Elisa Moreira Ferreira (https://www.linkedin.com/in/anaelisa-univoz/)
Sandra Mendonça (https://www.linkedin.com/in/sandra-mendon%C3%A7a-b48a73b9/)

Referências:
SCHEIN, E.H.; BENNIS, W. Personal and organizational change through group methods. New York: Wiley & Son, 1965.
EDMONDSON, A.C. A Organização sem Medo. . Alta Books, 2020

São Paulo, 17 de Fevereiro de 2025